Passeando no Facebook, fui surpreendida pela foto de campanha eleitoral da denominada "mulher-pera"(esta aqui).
Pois é, leitor(a). Essa imagem é tão absurda que está além do próprio absurdo - é pós-absurda. Espantosa e constrangedora, ao misturar as linguagens do marketing e da pornografia, é tão apelativa, que nem chega a ser engraçada. E o pior: mostra seu traseiro para as lutas pelos direitos das mulheres em um momento de ascensão exponencial da violência doméstica/sexual contra elas (nós).
A imagem acrescenta um capítulo ao vale-tudo para obter o voto popular; especialmente, o voto masculino. Mas, como é próprio das bondages sadomasoquistas, sua "mira" é ao mesmo tempo "alvo": a postura, com as nádegas em primeiro plano, e a cabeça em segundo (quase que rebaixada), alude a certa subserviência animal - além da insinuação de sodomia - para um eleitor promovido a dominador, o chefe. A senhorita Pera deixa-se, docilmente, sodomizar pelo eleitor em geral, para conquistar todo aquele que se "mobilizar ao voto" (agindo com base no mais irracional dos afetos, e, por isso mesmo, o mais utilizado pela propaganda) com o seu recado. Parece (e apenas parece, pois possuir a imagem do objeto não é possuí-lo efetivamente - a imagem é impostora, pois promete sem dar nada) negar a seletividade própria da sexualidade humana, rebaixando as mulheres à carnalidade que os sacerdotes de todos os templos sempre lhes atribuíram. Como a Geni (de Geni e o Zeppelim):
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir:
"Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!" (Chico Buarque)
E há mais. Sendo a sodomia, em nossa cultura, mistura de dor e prazer, tem tudo a ver com o mundo da política pós-absurda. Com seus jingles pegajosos, seus programas eleitorais agradáveis, suas vozes melífluas, todos os demagogos do mundo ficam muito aquém da Mulher-pêra. Se cuidem, Serra, Haddad, Russomano, Paulo Garcia! Mostrem seus atributos aí, vá! Quem sabe a ficha de cadastro dos candidatos não possa ser um Book?
Vendendo prazer visual, a Mulher-pera tenta trocar sua imagem por elementos (dinheiro, poder político) completamente alheios à sua mensagem, transmitindo a ideia - involuntariamente sábia - de que a política é zona de prostituição voluntária, na qual as mulheres também podem guerrear com suas armas primatas (pós-siliconadas); na qual as únicas ideias são as do marketing, e no qual a maioria esmagadora dos políticos fingem-se submissos ao mostrar-nos sua "contribuição" - enquanto, de fato, mostram-nos o mesmo que a senhorita Pera, a dar lições de marketing que põem Machiavel, seus fins e seus meios nos chinelos, senão em biquínis.
Era para isso o que queríamos ao ver as mulheres no âmbito da esfera pública? É essa a esfera pública que, sujeitos de moralidade (pelo menos) mediana, nós merecemos? Até quando o povo vai sofrer a ressaca do petismo?!
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