"Recebendo anualmente uma remuneração quase astronômica, de cerca de 1.500 libras, pelos seus serviços ao governo (...), Locke não hesitou em louvar a perspectiva de os pobres ganharem 'um centavo por dia' (a penny per diem), ou seja, uma quantia aproximadamente mil vezes inferior a seu próprio vencimento, em apenas um dos seus cargos governamentais." (p.40)
"E enquanto as leis brutais de Henrique VIII e de Eduardo VI pretendiam cortar apenas 'metade da orelha' dos criminosos reincidentes, o nosso grande filósofo liberal e funcionário do Estado - uma das figuras dominantes dos primórdios do Iluminismo inglês - sugeriu uma melhoria de tais leis ao recomendar, solenemente, o corte de ambas as orelhas, punição a ser aplicada aos réus primários".(p.41) (Mészáros, I. A educação para além do capital. 2 ed. São Paulo: Boitempo, 2008)
*Nunca cheguei a ler Locke (e creio que não o farei). Mas ele me lembrou o Milton Friedman que, à beirada da morte, teve ainda energia para escrever a um jornalão americano sobre a reconstrução de New Orleans após o furacão Katrina. O que disse Friedman? "Excelente oportunidade para reconstruir o sistema educacional com um experimento de financiamento privado".
* E vocês achavam que esse bordão da crise como oportunidade tinha algum conteúdo filosófico sério?! Muitos acreditam. Cheguei a vê-lo em um artigo de psicologia que avaliei.
* Ainda sobre Locke: acho que essa legislação sobre as orelhas não tinha a pretensão de ser tosca, vil, indecente, nem dotada de qualquer qualidade própria. O sujeito só estava tentando mostrar serviço - tentando fazer por merecer suas 1.500 libras anuais. E ainda falam bem da modernidade, ou do Iluminismo, como promessa?!
Bem, nesse caso, só se for promessa de cortar orelhas.
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