terça-feira, 23 de outubro de 2012

John Locke não foi um cara legal

"Recebendo anualmente uma remuneração quase astronômica, de cerca de 1.500 libras, pelos seus serviços ao governo (...), Locke não hesitou em louvar a perspectiva de os pobres ganharem 'um centavo por dia' (a penny per diem), ou seja, uma quantia aproximadamente mil vezes inferior a seu próprio vencimento, em apenas um dos seus cargos governamentais." (p.40)
"E enquanto as leis brutais de Henrique VIII e de Eduardo VI pretendiam cortar apenas 'metade da orelha' dos criminosos reincidentes, o nosso  grande filósofo liberal e funcionário do Estado - uma das figuras dominantes dos primórdios do Iluminismo inglês - sugeriu uma melhoria de tais leis ao recomendar, solenemente, o corte de ambas as orelhas, punição a ser aplicada aos réus primários".(p.41) (Mészáros, I. A educação para além do capital. 2 ed. São Paulo: Boitempo, 2008)

*Nunca cheguei a ler Locke (e creio que não o farei). Mas ele me lembrou o Milton Friedman que, à beirada da morte, teve ainda energia para escrever a um jornalão americano sobre a reconstrução de New Orleans após o furacão Katrina. O que disse Friedman? "Excelente oportunidade para reconstruir o sistema educacional com um experimento de financiamento privado".
* E vocês achavam que esse bordão da crise como oportunidade tinha algum conteúdo filosófico sério?! Muitos acreditam. Cheguei a vê-lo em um artigo de psicologia que avaliei. 
* Ainda sobre Locke: acho que essa legislação sobre as orelhas não tinha a pretensão de ser tosca, vil, indecente, nem dotada de qualquer qualidade própria. O sujeito só estava tentando mostrar serviço - tentando fazer por merecer suas 1.500 libras anuais. E ainda falam bem da modernidade, ou do Iluminismo, como promessa?! 
Bem, nesse caso, só se for promessa de cortar orelhas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Facebook

Total de visualizações de página

53,375